domingo, 8 de março de 2009

Nordeste cultiva a tradição do arroz vermelho

O arroz branco surgiu de uma mutação genética ocorrida nas plantas de arroz vermelho e acabou prevalecendo.
No Brasil, o arroz vermelho foi introduzido pelos portugueses logo no início da colonização, mas na segunda metade do século 18, seu plantio foi proibido pela Coroa Portuguesa, que introduziu o arroz branco no seu lugar.
O arroz vermelho e o branco são variedades diferentes da mesma espécie e têm grãos muito parecidos. Antes do beneficiamento, nem dá para distinguir um do outro. A cor vermelha surge com a retirada da casca; está na película que envolve o grão.
Hoje, o arroz vermelho continua sendo cultivado em áreas isoladas no Centro-Oeste, no Norte e no Nordeste – onde recebe também os nomes de arroz da terra, arroz de Veneza, arroz Maranhão e outros. Fora destas regiões, ele é considerado uma praga a ser eliminada das lavouras.
É no sertão do estado da Paraíba que se concentra a maior produção de arroz vermelho do Brasil. São, ao todo, cinco mil hectares, distribuídos entre os municípios de Itaporanga e Piancó, a mais ou menos 500 quilômetros da capital, João Pessoa.
Lá, as lavouras de arroz vermelho ocupam as várzeas dos rios, que são mais úmidas e férteis. A produtividade é baixa: não chega a dois mil quilos por hectare, enquanto o arroz branco pode passar de dez mil quilos por hectare. “O branco é mais produtivo, mas o vermelho é tradicional. Além de uma cultura, uma lenda, ele é mais tradicional, mais prático de trabalhar. O sabor, 90% da região acha melhor", diz um produtor.
A colheita do arroz vermelho é toda manual. Conhecemos a lavoura do seu José Neto, mais conhecido como Zé de Bola. "Eu prefiro esse arroz vermelho pra comer. Eu nasci comendo ele então me vejo até morrer comendo ele", diz seu José.
No Piancó, o pessoal ainda preserva o sistema de trabalho em mutirão. Eles foram ajudar seu José na colheita; no dia seguinte, é a vez dele trabalhar na lavoura de outro companheiro.
Pelo costume do mutirão, quem fornece a bóia é o dono da lavoura. Em volta do fogãozinho à lenha, dona Francisca, esposa de seu José, recebe a turma com uma dupla muito apreciada na região: arroz vermelho com feijão. Para completar, tem tomate e carne de porco. "De manhã, meio-dia e à noite, a gente come arroz vermelho", diz seu José.
Preparo do arroz vermelhoNa região, ninguém cozinha o arroz vermelho com óleo, mas sim com leite, água e sal. O nome do prato é “arroz de leite”.
Primeiro despeja-se o arroz em água quente e coloca-se sal a gosto. O cozimento leva 20 minutos, sempre mexendo. Agora é só despejar o leite e deixar o arroz terminar de cozinhar.
A primeira coisa que chama a atenção é que o arroz vermelho não fica soltinho, como o branco. Mas é muito saboroso. A Embrapa vem realizando diversas pesquisas com o arroz vermelho. A idéia é conhecer melhor essa planta e descobrir se ela contém genes que podem ajudar na criação de novas variedades de arroz, mais saborosas e resistentes a pragas e doenças.

Um comentário:

  1. Nossa que delicia em ler esta materia,pois sou a cozinheira do arroz vermelho,em Cruzeiro,pois ele é a comida típica da cidade,,bjss

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